1. Nenhuma economia gera e sustém empresas competitivas sem um ecossistema de suporte forte e especializado.
Os centros económicos mais competitivos têm um ecossistema de suporte empresarial altamente evoluído, constituído por prestadores de serviços especializados que permitem a qualquer start-up ou grande empresa global focar-se no seu desafio de negócio e obter contributos da maior relevância para construírem diferenciadores competitivos. Nenhuma destas empresas vingou sozinha. Mesmo depois de atingirem grandes dimensões, estas empresas mantêm as suas vantagens competitivas com o apoio de um conjunto sofisticado de PSP especializados.
A economia portuguesa e as empresas portuguesas serão tão mais competitivas quanto mais se trabalhar numa ótica de construção de negócios numa lógica de ecossistema e de reforço dos ecossistemas existentes. Porquê? Aquilo que fazia as empresas terem sucesso no passado não é o que as fará competitivas no futuro.
A tecnologia digital mudou a forma de competir, devido ao impacto da internet e variados processos e interações de carácter digital. Os dados são a nova medida de valor, introduzindo uma nova dinâmica competitiva. O efeito combinatório das várias tecnologias – digital, de materiais, produção aditiva, nanotecnologia, biotecnologia, entre outras – está a abrir um novo mundo de possibilidades, cheio de oportunidades e de ameaças e a rescrever modelos de negócio.
Mas não só. A massificação da internet colocou os consumidores no lugar do condutor. São os consumidores a orientar os produtos e os serviços que as empresas produzem. E são, também, cada vez mais “prosumers”, produtores de conteúdos, serviços e produtos que disponibilizam via internet.
Num mundo tão especializado, complexo e rápido, uma empresa já não é um ator estratégico independente. O seu sucesso depende da colaboração estruturada com outras empresas num ecossistema organizado. Mas estes ecossistemas estão também em mutação, de lineares para altamente complexos, ligados digitalmente, e para modelos de plataforma, onde a crescente concentração de dados gera efeitos de network e de enorme poder de mercado.
A este novo contexto competitivo acrescem fatores estruturais da economia portuguesa (nomeadamente a burocracia e o elevado nível de endividamento, que condicionam o investimento), e a pouca eficácia da justiça portuguesa, que reduz a confiabilidade contratual que as empresas precisam, bem como fatores conjunturais globais associados a um contexto de crises recorrentes, geopolíticas, energéticas, financeiras, económicas, pandémicas e de cadeias logísticas.
2. Os prestadores de serviços profissionais (PSP) são aceleradores indispensáveis das adaptações ágeis e necessárias para manter e aumentar a competitividade das empresas, das cidades e da economia portuguesa.
Na nova economia digital do séc. XXI, os PSP assumem uma tripla relevância, em especial os de conhecimento intensivo, nomeadamente nas vertentes de estratégia (novos modelos de negócio), inovação (agilidade da oferta), operações (automação e requalificação), internet, desenvolvimento de software (plataformas, dados, inteligência artificial, cibersegurança), e equipamentos de interface digital: i) pelo seu contributo direto para o PIB e para o emprego qualificado, ii) pelo efeito multiplicador na competitividade do resto da economia, de regiões e cidades, de PME e de setores e de empresas estratégicas para a economia, iii) pela sua capacidade de atrair e desenvolver de forma acelerada o melhor talento que mais tarde se desloca para a gestão das empresas de elevado potencial ou novas start-ups.
Os PSP são essenciais para preparar as empresas para o futuro, ajudando a inovar e a implementar transformações que lhes trazem vantagens competitivas num ambiente cada vez mais turbulento.
Sem uma estratégia de fortalecimento do setor dos PSP para um nível como existe nos centros de inovação e nas economias mundiais mais avançadas, a economia e as empresas portuguesas terão maiores dificuldades em endereçar as grandes transformações induzidas pela 4.ª Revolução Industrial associadas à emergência dos dados como novo fator da competitividade das empresas, à restruturação do trabalho e do emprego devido à inteligência artificial e à automação, e à adaptação a uma economia de carbono-zero, para destacar apenas algumas das enormes disrupções em curso.
Evidentemente, a este novo contexto competitivo acrescem fatores estruturais da economia portuguesa, nomeadamente a burocracia e o elevado nível de endividamento, que condicionam o investimento; e a pouca eficácia da justiça portuguesa, que reduz a confiabilidade contratual que as empresas precisam; bem como fatores conjunturais globais associados a um contexto de crises recorrentes, geopolíticas, energéticas, financeiras, económicas, pandémicas e de cadeias logísticas.
Carlos Valleré Oliveira, managing partner LBC
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